Haiti depois da tragéria, por um amigo….

image O Coronel de Cavalaria Gerson Pinheiro Gomes (ao centro), ex-Comandante do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, serviu no 10º Contingente no Haiti como G-7 (Oficial de Comunicação Social) tendo voltado de lá em agosto. Morava em Brasília e mudou-se agora para o Rio, pois deveria começar a cursar o CEPEAEX (Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército) quando ocorreu a tragédia do terremoto naquele país. Perdeu muitos amigos e amigas, já que tendo ficado em Porto Príncipe por oito meses e naquela função onde recebia jornalistas, autoridades e demais visitantes conhecia muita gente. Foi chamado de volta e está trabalhando junto ao General Floriano Peixoto, o brasileiro que comanda todas as tropas de todos os países da MINUSTAH. Pedi permissão para publicar parte da troca de mensagens comigo e outros amigos que aqui no Brasil, preocupados, pediam notícia já que, como conhecedor do ANTES, seu depoimento sobre a situação atual é rico e precioso.

Nota do Editor do site http://www.sangueverdeoliva.com.br, 
que também edita um dos mais completos sites sobre a operação brasileira no Haiti. http://www.sangueverdeoliva.com.br/onu/

Escreveu o Cel Gerson:

Desde que retornei ao Haiti tenho querido escrever compartilhando um pouco do meu sentimento, mas a intensidade do trabalho me impediu. As poucas horas de sono e a quantidade enorme de trabalho por realizar me extenuaram.

Esta semana comecei a dormir algumas horas a mais e já me sinto melhor. As ações se tornam mais planejadas e cadenciadas e, aos poucos, uma rotina se estabelece.

Ainda existem muitos sob os escombros e diversos funcionários da ONU e seus parentes permanecem desaparecidos.

A maioria das equipes de resgate retornou aos seus países e o trabalho agora se limita a encontrar corpos.

A destruição foi tremenda e ao passar pelas ruas ainda me sinto impactado, pois havia deixado o Haiti há poucos meses e conhecia cada um desses lugares.

A coordenação com os americanos melhorou bastante e as ações de ajuda humanitária entraram em um ritmo bom, sem perdermos o controle da segurança em todo o País.


(UN Photo/Sophia Paris ) General Floriano Peixoto (Force Commander) e o Tenente General americano Kenneth Keen
Grande parte do povo retomou suas atividades, os bancos abriram, o comércio de rua voltou a funcionar e o transporte na cidade (com os Tap Tap) se normalizou. O aeroporto ainda não está aberto a voos comerciais, pois está sendo usado 24 horas por dia para ajuda humanitária e logística das tropas (da ONU e dos países que enviaram emergencialmente militares para hospitais de campanha, resgate, defesa civil, etc).

Somente a logística dos militares dos EUA e Canadá seriam suficientes para comprometer integralmente o movimento de pousos e decolagens. Estamos fazendo uma distribuição equilibrada e, do Brasil, por exemplo, temos em média dois voos militares diários.

Os portos fora de Porto Príncipe estão funcionando. O daqui está sendo preparado pelos americanos para operar esta semana ainda.

Vamos receber a partir da semana que vem um acréscimo de 2000 homens de diversos países. Do Brasil virá outro Batalhão com 900 homens, da Coréia e do Japão duas companhias de Engenharia com 500 militares e por aí vai... A Polícia da ONU receberá um incremento de 1500 policiais. Um navio da Marinha do Brasil está a caminho com equipamentos para o BRABATT 2 e toneladas de doações. Um segundo navio partirá nos próximos dias do Rio.

Aos poucos as inúmeras iniciativas de ajuda humanitária vão se articulando e o Haiti começa a se levantar. Esse povo aprendeu a sofrer com os furacões em meio à pobreza, com uma resistência impressionante...

Os que vieram para a ajuda humanitária pela primeira vez ao país ficam impressionados com a pobreza, o lixo, a falta de energia elétrica e água. É lamentável saber que essa já era a condição do Haiti antes do terremoto. Cité Soleil está idêntica! Os efeitos do terremoto foram muito menos dramáticos ali, onde os barracos de zinco simplesmente tiveram que ser reerguidos em poucas horas...

Por isso muitos conseguem ver nisso tudo uma oportunidade para conseguir apoio internacional para erguer o país. Hoje esteve aqui o ex-presidente Clinton com vários doadores e nesse momento em que estou escrevendo vejo pela televisão um show em Miami para levantar fundos.

As eleições parlamentares de fevereiro foram canceladas. O parlamento, os ministérios, o palácio presidencial, todas as instalações do centro administrativo da capital foram destruídos.

Eu estou alojado no Batalhão Brasileiro, mas a maioria dos funcionários da ONU está dormindo nos escritórios da Base Logística da ONU, onde todos do staff da MINUSTAH trabalham. Recebemos reforços de todos os escritórios da ONU no mundo. Todos os dias eu conheço gente nova, pois os funcionários sobreviventes estão sendo dispensados por 15 dias para se recuperarem psicologicamente enquanto companheiros chegam de todas as partes para suprirem as faltas dos mais de 100 mortos/desaparecidos e de todos que estão saindo de licença.

Claro que os militares continuam trabalhando sete dias da semana, 24 horas por dia. Essa tragédia evidenciou ainda mais a importância do seguimento militar da MINUSTAH.

Estamos realizando o rodízio dos contingentes militares e o Brasil terminou hoje o seu. Praticamente todos os militares brasileiros que estavam aqui no terremoto já foram substituídos por uma tropa nova que nitidamente chegou muito motivada a realizar o trabalho imenso que está por fazer...

Aqui mando um link onde existem centenas de fotos que falam por si...

Um forte abraço!

Gerson

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